Bispos católicos convocam para caminhada pela paz no Maranhão domingo

Dom Belisário, arcebispo de São Luís, também assinou o documento
Dom Belisário, arcebispo de São Luís, também
assinou o documento

Os bispos da Igreja Católica do Maranhão convocaram, por meio de carta aberta, toda população do Estado para uma caminhada silenciosa à luz de velas, no próximo domingo (02), em todas as comunidades. O ato, para os 13 líderes que assinam o documento, será uma ‘expressão de compromisso com a justiça e paz’.

Na carta, os bispos relembram a morte da menina Ana Clara, vítima dos ataques a ônibus que ocorreram no dia 3 de janeiro, em São Luís, e os assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Com isso, assinalam ‘o clima de terror e medo’ vivido na capital.

Para quem não puder participar da caminhada, os bispos sugerem, ainda, que uma vela seja acesa em frente de cada residência, como ‘sinal do empenho em favor da paz’.

Além do arcebispo de São Luís, Dom José Belisário da Silva, que é também vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a carta é assinada por Dom Armando Martin Gutierrez, Dom Carlo Ellena, Dom Élio Rama, Dom Enemésio Lazzaris, Dom Franco Cuter, Dom Gilberto Pastana de Oliveira, Dom José Soares Filho, Dom José Valdeci Santos Mendes, Dom Sebastião Bandeira Coêlho, Dom Sebastião Lima Duarte, Dom Vilsom Basso, e Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges.

Leia a íntegra da carta:


Ao Povo de Deus e a todas as pessoas de boa vontade

“Justiça e paz se abraçarão” (Sl 85,11)”

Ainda estão vivas em nós a forte emoção e dor, provocadas pelos últimos acontecimentos no Estado do Maranhão – a morte violenta da Ana Clara, criança de seis anos que faleceu após ter seu corpo queimado nos ataques a ônibus; os cruéis assassinatos no Complexo Penitenciário de Pedrinhas; o clima de terror e medo vivido na cidade de São Luís.

A nossa sociedade está se tornando cada vez mais violenta. É nosso parecer que essa violência é resultado de um modelo econômico-social que está sendo construído.

A agressão está presente na expulsão do homem do campo; na concentração das terras nas mãos de poucos; nos despejos em bairros pobres e periferias de nossas cidades; nos altos índices de trabalhadores que vivem em situações de exploração extrema, no trabalho escravo; no extermínio dos jovens; na auto-destruição pelas drogas; na prostituição e exploração sexual; no desrespeito aos territórios de indígenas e quilombolas; no uso predatório da natureza.

Esta cultura da violência, aliada à morosidade da Justiça e à ausência de políticas públicas, resulta em cárceres cheios de jovens, em sua maioria negros e pobres. O nosso sistema prisional não reeduca estes jovens. Ao contrário, a penitenciária transformou-se em uma universidade do crime. Não nos devolve cidadãos recuperados, mas pessoas na sua maioria ainda mais frustradas que veem na vida do crime a única saída para o seu futuro.

Vivemos num Estado que erradicou a febre aftosa do gado, mas que não é capaz de eliminar doenças tão antigas como a hanseníase, a tuberculose e a leishmaniose.

É verdade que a riqueza no Maranhão aumentou. Está, porém, acumulada em mãos de poucos, crescendo a desigualdade social. Os índices de desenvolvimento humano permanecem entre os mais baixos do Brasil. Não é este o Estado que Deus quer. Não é este o Estado que nós queremos! Como discípulos missionários de Jesus, estamos comprometidos, junto a todas as pessoas de boa vontade, na construção de uma sociedade fraterna e solidária, sem desigualdades, sem exclusão e sem violência, onde a “justiça e a paz se abraçarão” (Sl 85,11).

A cultura do amor e paz, que tanto almejamos, é um dom de Deus, mas é também tarefa nossa. Nós, bispos do Maranhão, convocamos aos fieis católicos e a todas as pessoas que buscam um mundo melhor a realizarem um gesto concreto no próximo dia 2 de fevereiro, como expressão do nosso compromisso com a justiça e a paz. Neste dia – Festa da Apresentação do Senhor, Luz do mundo, e de Nossa Senhora das Candeias –, pedimos que se realize em todas as comunidades uma caminhada silenciosa à luz de velas, por ocasião da celebração. Às pessoas comprometidas com esta causa e às que não puderem participar da celebração sugerimos que acendam uma vela em frente à sua residência, como sinal do seu empenho em favor da paz.

Invocando a proteção de Nossa Senhora, Rainha da Paz, rogamos que o Espírito nos oriente no sentido de assumirmos nossa responsabilidade social e política para construirmos uma sociedade de irmãs e irmãos que convivam na igualdade, na fraternidade e na paz.

Centro de Formação de Mangabeiras-Pinheiro – MA, 15 de janeiro de 2014

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