Lava Jato: Quem está mentindo na Polícia Federal?

A investigação sobre um grampo ilegal envolve disputa por poder na corporação e a suposta cooptação de agentes federais

Carta Capital

Yousseff mostra grampo
Youssef mostra suposto grampo encontrado em sua cela

Ao completar um ano e dois meses desde sua primeira fase, realizada em 17 de março de 2014, a Operação Lava Jato enfrenta um momento de turbulência. Não bastasse a primeira derrota no Supremo Tribunal Federal, que soltou oito empreiteiros presos preventivamente, a força-tarefa é acusada de ter instalado um grampo ilegal para ouvir conversas do doleiro Alberto Youssef em sua cela na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

Embora nenhuma informação colhida com base no suposto grampo tenha sido utilizada nos inquéritos e ações penais, a notícia sobre a existência do equipamento elevou a tensão entre os investigadores e, se confirmada, pode resultar na saída dos atuais delegados da força-tarefa. Os bastidores do caso revelam uma disputa de poder dentro da corporação e apontam para um possível mercado de compra de dossiês e cooptação de agentes federais por empreiteiras cujo objetivo seria criar condições para anular ou ao menos tumultuar os processos conduzidos pelo juiz Sergio Moro.

Os fatos são os narrados a seguir. No dia 10 de abril de 2014, após informação do advogado de Youssef, Antonio Augusto Figueiredo Basto, a PF encontrou na cela do doleiro um equipamento supostamente utilizado como escuta ambiental. De acordo com Basto, o doleiro teria sido informado por outro detento que no dia de sua prisão o agente Rodrigo Prado Pereira entrara na cela para instalar o grampo. Foi instaurada uma sindicância para apurar a possível irregularidade.

A investigação descobriu que o agente Pereira não estava em Curitiba naquela data, mas em missão em Camboriú, no estado de Santa Catarina. Além disso, a perícia no equipamento indicou tratar-se de uma escuta inativa, instalada quando da prisão do traficante Fernandinho Beira-Mar. A versão foi corroborada pelo depoimento do agente Dalmey Fernando Werlang, do setor de inteligência.

Em 22 de setembro, Moro, após analisar o material colhido na sindicância, informou não haver “nenhuma prova de qualquer escuta ambiental”. Explicada, até então, a situação, a Polícia Federal continuou com suas diligências e, desde então, realizou várias fases da operação. A última delas, na quinta-feira 21, prendeu o operador da Engevix, Milton Pascowitch.

A situação começou a mudar com a chegada do delegado Mário Fanton em Curitiba. Lotado em Bauru, interior de São Paulo, Fanton foi enviado em missão ao Paraná. Logo após sua chegada, começou a procurar os delegados da força-

tarefa para falar do seu desejo de participar das investigações sobre a suposta venda de dossiês realizada por integrantes da PF e advogados. O tema apareceu ainda em novembro de 2014, na véspera da fase Juízo Final da Lava Jato. À época, o setor de inteligência da polícia foi informado sobre a possível ocorrência do crime depois de um dossiê, com conversas de delegados em um grupo fechado numa rede social, parar nas mãos de uma repórter do jornal O Estado de S. Paulo. O caso passou a ser alvo de uma investigação sigilosa, mas sem gerar mais preocupações. Até o início de maio, quando o cenário mudou.

Em meio à ofensiva das empreiteiras para tentar paralisar as investigações, os delegados da força-tarefa foram informados de que a Corregedoria em Brasília investigava a utilização de grampos ilegais na cela de Youssef e que dois depoimentos amparavam a nova sindicância. Um deles era do agente Dalmey Werlang, o mesmo que no ano anterior descartara a utilização do equipamento, e outro do próprio Fanton. Nas declarações, ambos confirmavam a existência da escuta ilegal na cela do doleiro e responsabilizavam o superintendente paranaense da PF, Rosalvo Franco, e os delegados da Lava Jato, Márcio Adriano Anselmo e Igor Romário de Paula, pela ilegalidade da ação. CONTINUE LENDO AQUI

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