Estadão

Temer tenta repetir argumento de Sarney: custo da saída é maior que o da permanência

Ter vice é mais arriscado que ser vice. Desde a redemocratização, outros três presidentes chegaram ao nível de impopularidade de Michel Temer. Fernando Collor e Dilma Rousseff caíram. Ambos eram titulares e foram substituídos por seus vices – Itamar Franco e o próprio Temer. O único que não caiu, José Sarney, não tinha vice. Como Temer, era um ex-vice. Sangrou meses, mas segurou-se até o fim, à custa de uma hiperinflação. Coincidência? Provavelmente não. O vice lubrifica a queda.

Ele nem sequer precisa participar diretamente da derrubada, embora alguns não resistam e se tornem ativos no processo. Quando há um substituto automático para o presidente impopular, o “quem” deixa de ser o foco do debate. O sucessor é o vice e ponto. Outros políticos não lançam suas próprias candidaturas nem a de aliados para ocupar o lugar que pretendem tornar vago.

Havendo vice, o conflito fica mais restrito, e isso facilita a construção de um consenso ou de maioria em torno de seu nome. Sem vice, todos sonham em vestir a faixa e sentar na cadeira. Basta ver o que está acontecendo em Brasília nesses dias.

Toda a discussão sobre a permanência ou não de Temer no palácio gira menos em torno dos motivos do que dos meios para apeá-lo do poder e, principalmente, de quem seria o sucessor. Que há razões suficientes para abreviar-lhe o mandato, poucos discordam. Mas se isso é prático, viável e, especialmente, se há um nome óbvio para substituí-lo, tem sido impossível de chegar a acordo.

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