Qual vai ser o final da Dilma: FHC, Sarney ou Collor?

Por Alexandre Caverni

dilma e lula

R7 – A intensidade da turbulência político-econômica combinada com a aguda perda de popularidade da presidente Dilma Rousseff e seu governo tornam qualquer prognóstico bastante arriscado, mas cada vez mais parece que a petista está perdendo as condições de governar plenamente.

Alguns episódios recentes mostram isso claramente, como o anúncio em primeira mão da saída de Cid Gomes do Ministério da Educação pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois que o ministro não se retratou por críticas a parlamentares. Quem tinha dúvidas sobre a força de Cunha no atual cenário deixou de ter.

Num outro episódio, a presidente fez questão de colocar panos quentes sobre uma declaração do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, interpretada como uma crítica a ela. Para quem tem pavio curto, como dizem, não deve ter sido fácil relevar uma afirmação que sugeria que ela às vezes não é eficaz.

Levy é hoje o grande fiador do governo junto ao empresariado e, não menos importante, ao mercado financeiro. Mas não é só isso.

Responsável por implementar um ajuste fiscal para reequilibrar as contas públicas, o ministro está se transformando também num importante articulador político, fazendo inúmeras reuniões com lideranças parlamentares para garantir a aprovação de medidas pelo Congresso.

Teoricamente, a presidente teria maioria parlamentar folgada, mas sua reeleição por um placar muito apertado combinado a um antigo descontentamento dos aliados no Congresso pelo modo como eram tratados fez a base governista se rebelar de forma nunca vista nos mais de 12 anos de governos petistas.

Houve derrotas do governo aqui e ali no passado e nem sempre foi fácil para o Executivo conseguir a aprovação de seus projetos, mas o quadro atual é uma novidade ruim para a presidente.

Junto a isso, ao contrário do que houve nas três eleições presidenciais anteriores, a oposição não tirou seu time de campo e muitos dos seus eleitores também não.

Protestos contra o governo começaram antes mesmo de Dilma tomar posse pela segunda vez, até desembocarem no mês passado nas maiores manifestações populares desde a campanha pela volta das eleições diretas no país.

E o descontentamento passou a se generalizar, como mostram as recentes pesquisas de opinião pública, impulsionado também pela forte piora no quadro econômico e por medidas impopulares.

Há ainda o maior escândalo de corrupção da história do país, envolvendo a maior empresa brasileira, a estatal Petrobras, que alimenta ainda mais a impopularidade de Dilma e do governo.

Em momentos assim, é sempre tentador fazer comparações históricas. É possível ver um paralelo com o governo José Sarney e a adoção do Plano Cruzado 2.

Se o Plano Cruzado original teve enorme apoio popular com o congelamento de preços, levando a uma esmagadora vitória eleitoral das forças governistas em 1986, as medidas adotadas logo depois, incluindo aumentos de preços e impostos, causaram revoltas e aguda perda de popularidade, tirando muito da capacidade de Sarney governar.

Para os mais pessimistas (ou otimistas, dependendo do ponto de vista), a comparação é com o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que tentou salvar seu governo, em meio a pesadas denúncias de corrupção, com um ministério de notáveis, que incluiu o respeitado Marcílio Marques Moreira no comando da Fazenda. Não foi suficiente para impedir o impeachment.

Já para os mais otimistas (ou pessimistas), o melhor é ver o que aconteceu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no seu segundo mandato.

Depois de segurar o câmbio durante seu primeiro governo e, especialmente, durante a campanha eleitoral, apesar de isso se mostrar cada vez mais insustentável, Fernando Henrique se viu obrigado a liberar o câmbio e com a turbulência econômica teve grande perda de popularidade.

Mas como tinha uma base aliada parlamentar mais programática, ainda que não tenha recuperado plenamente sua popularidade nem feito seu sucessor, Fernando Henrique nunca perdeu as condições de governar e conseguiu implementar importantes medidas que ajudaram a solidificar o Plano Real e a estabilizar a economia.

Será preciso um pouco mais de tempo para ver qual das três comparações vai prevalecer. Ou para surgirem novas comparações.

* Esta coluna foi publicada inicialmente no terminal financeiro Eikon, da Thomson Reuters.

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