Bolsonaro ataca esquerda, imprensa, França e índio Raoni na ONU

Bolsonaro cometeu um deslize ao afirmar que, em apenas oito meses, seu governo conseguiu arrematar as negociações de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia. As discussões haviam sido retomadas e praticamente finalizadas na gestão anterior, de Michel Temer.

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Em seu primeiro discurso no plenário da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro abriu frentes de ataques severos contra os governos de esquerda no Brasil, a atitude da França diante dos incêndios na Amazônia e até mesmo o cacique caiapó Raoni Metuktire, uma das principais vozes contra as políticas indigenista e ambiental da sua gestão. Sob a alegação de que trazia a “verdade” ao plenário, o brasileiro criticou até mesmo a própria ONU, a quem acusou de “perverter a identidade biológica”, em referência à agenda da organização em favor da diversidade de gênero.

“Apresento aos senhores um novo Brasil, que esteve à beira do socialismo”, declarou logo no início de seu discurso de 31 minutos – 11 a mais do que o determinado pela ONU a cada chefe de Estado. “Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou numa situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade e de ataques ininterruptos aos valores familiares e religiosos que formam nossas tradições”, completou, em uma clara apresentação do viés ideológico de seu governo.

Em plena situação de fritura de seu ministro da Justiça, em Brasília, Bolsonaro interrompeu seus ataques apenas ao alçar a figura do ex-juiz Sergio Moro, a quem elogiou por seu combate à corrupção. Igualmente valeu-se da presença da indígena Yzany Kalapalo, que trouxe à ONU como parte de sua delegação, para dar credibilidade a sua versão de que a Amazônia não está sendo destruída, de que seu governo combate o incêndio criminoso e de que sua política indigenista segue os anseios dos nativos brasileiros.

Bolsonaro não chegou a mencionar a França diretamente, mas referiu-se à nação presidida por Emmanuel Macron como “um país” que adotou uma postura colonialista, seguiu a “mídia sensacionalista” e ousou “sugerir a aplicação de sanções contra o Brasil” no episódio dos incêndios na Amazônia. O presidente brasileiro pediu respeito à soberania nacional e atribuiu a polêmica internacional em torno do desmatamento da Amazônia à “mídia sensacionalista”.

“É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade, e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que nossa floresta é o pulmão do mundo”, afirmou. “Valendo-se dessas falácias, um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista.”

Nesse capítulo, Bolsonaro voltou a ser agressivo em relação às reservas indígenas. Afirmou que não vai aumentar a área demarcada como terra indígena dos atuais 14% do território nacional para 20%, “como alguns chefes de Estado gostariam que acontecesse”. Mas completou que pretende permitir aos índios brasileiros, como os ianomâmis e os da Raposa Serra do Sol, a exploração econômica de suas reservas – citou ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras -, para que não sejam mais “latifundiários pobres em terras ricas”.

O presidente alegou ainda que haver no país 225 povos indígenas e outras 70 tribos isoladas para sustentar, em seguida, que o cacique Raoni não fala em nome de todos eles. Raoni é a principal liderança que, especialmente no plano internacional, atua em favor da preservação ambiental e da proteção de áreas indígenas desde os anos 1980.

“A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes, como o cacique Raoni, são usados como peças de manobra por governos estrangeiros na sua guerra informacional para avançar seus interesses na Amazônia”, declarou. “Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.”

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