E por que bancar um museu para Sarney com dinheiro público do Estado?

Estado já tão castigado pela miséria e desigualdades sociais bancava alta folha de pagamento para o Museu de Sarney. Gastos anuais eram em torno de R$ 2 milhões e R$ 3 milhões.

um espaço público como aquele foi utilizado para fins de promoção pessoal de uma figura como o ex-presidente da República
Convento das Mercês – Espaço público foi utilizado para fins de promoção pessoal de figura pública. Foi transformado em símbolo dos privilégios e mordomias do período oligárquico

Eu sempre me perguntei isso e agora  indago aos meus leitores: mas por que o Maranhão tem mesmo que bancar um museu para o ex-presidente José Sarney com dinheiro dos cofres públicos do Estado? A Fundação da Memória Republicana, que funciona no Convento das Mercês, tinha uma folha mensal de cerca de R$ 200 mil em cargos comissionados, mantidos pela máquina púbica, que foram exonerados pelo governo Flávio Dino na semana passada. Por ano, eram gastos entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões com a manutenção das atividades do arquivo.

Respostas para a minha própria indagação. No Maranhão, durante o ciclo de mais de 50 anos de mandonismo do grupo Sarney, isso e muitas outras coisas curiosas e absurdas eram possíveis sim. Não é à toa que até o “The New York Times”, maior jornal do mundo, destacou que, no Estado, onde reinava a oligarquia, se você quiser ir de um ponto ao outro de São Luís, tem que pegar a “Ponte José Sarney” ; se quiser ir à maternidade, encontrará pela frente a Marly Sarney…Até o prédio do Tribunal de Contas do Estado (TCE) já teve o nome de “Roseana Sarney Murad”. Tal política de culto ao clã  contrariou, durante muitos anos, a Lei que proíbe o nome de pessoas vivas em prédios, logradouros e monumentos públicos.

E com o Convento das Mercês não poderia ter sido diferente. Aliás, foi diferente porque lá abriga o conhecido Museu do Sarney. Ou seja, um espaço público como aquele foi utilizado para fins de promoção pessoal de uma figura como o ex-presidente da República e líder de um grupo que dominou a política do Estado por mais de cinco décadas. Ali, consolidou-se mais um exemplo de símbolo dos privilégios e mordomias tão comuns ao período oligárquico.

Museu poderia ser bancado pela iniciativa privada ou governo

Federal, mas não com dinheiro de um Estado tão pobre

Sarney: Fundação lhe fazia culto no Maranhão
Sarney: Fundação lhe fazia culto no Maranhão

Acho que o ex-presidente José Sarney, familiares, fãs e amigos podem, sim, manter e buscar recursos para uma entidade como a Fundação da Memória Republicana, que continue abrigando o Museu em sua homenagem, mas desde que não seja com dinheiro público do Maranhão. Há várias formas de captar esses recursos, junto à iniciativa privada e ao governo Federal (já que se trata de memória republicana), sem precisar onerar um Estado já tão castigado pela miséria e desigualdades sociais.

Eu tenho conhecimento da função social da Fundação. Sei que, por meio da entidade, vários jovens, profissionais são capacitados em diversos cursos. E considero salutar que o governo continue incentivando e até amplie esse leque de oportunidades e capacitação que a entidade proporciona. Só não concordo que aquele espaço público seja um lugar de culto a uma figura pública e viva, com uma folha de pagamento alta e bancada pelos cofres públicos do Estado.

A Fundação era propriedade particular do senador José Sarney e foi estatizada em 2012, através de projeto de lei proposto pela então governadora Roseana Sarney, filha do ainda (por mais duas semanas) senador do Amapá.

A folha de pagamento mensal do Museu de Sarney  custava aos cofres públicos mais de R$ 174 mil, incluindo vencimentos que chegavam a mais de R$ 9 mil. Os comissionados recebiam seus vencimentos por meio do governo do Estado.

Cargos da Fundação ou Museu de Sarney

Anna Graziela queria manter 48 cargos no governo Flávio Dino
Anna Graziela queria manter 48 cargos no governo Flávio Dino

A lista de nomeação solicitada ao governo Flávio Dino pela presidente da Fundação, Anna Graziella Neiva, contém 48 nomes, entre muitas pessoas ligadas às famílias Sarney, Lobão e Neiva. O valor das nomeações variam em salários que chegam a R$ 9 mil por mês. Desde que foi estatizada, a Fundação já utilizou R$ 8,1 milhões num total de 3 anos de funcionamento com verbas públicas.

Além dos cargos em comissão, a Fundação possui um Conselho Curador, eleito para mandatos de seis anos, conforme disposição da lei aprovada durante o governo de Roseana Sarney. Dos nove cargos da Fundação, dois são hereditários e indicados pelo senador José Sarney. Após a sua morte, serão seus herdeiros os responsáveis pela nomeação.

A cláusula de previsão de hereditariedade é contestada pela Ordem dos Advogados do Brasil no Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação dos advogados, não é possível que uma função pública tenha caráter vitalício e hereditário. O caso está sendo avaliado pelo ministro Antonio Dias Toffoli e aguarda posicionamento da Justiça.

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